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  • Foto do escritorMatheus Mans

Resenha: 'Fim da Classe Média' exagera no academicismo econômico


Confesso que abri o livro Fim da Classe Média sedento por uma leitura analítica sobre esses novos tempos malucos em que vivemos. Afinal, muito antes da pandemia, a economia já estava em uma situação inexplicável de desequilíbrio, em que um único homem ganha bilhões em um único dia e algumas pessoas nem conseguem comer. O que está acontecendo no mundo?


Fim da Classe Média, do geógrafo francês Christophe Guilluy, busca responder algumas dessas perguntas. Afinal, a partir de algumas premissas bem estabelecidas, ele mostra como essa classe social e econômica massiva traz algumas ilusões poderosas e ajuda governos e elites econômicas a manterem seus poderes. É um livro de premissa clara e ideologia bem definida.


No entanto, rapidamente, algo me incomodou. Por mais bem intencionado que seja Guilluy, sua linguagem é extremamente acadêmica. Por mais que tenha pouco mais de 150 páginas, a obra leva uma eternidade para ser concluída. As palavras pesam, os conceitos são demasiadamente intrincados, as reflexões acabam se escondendo numa torrente de palavras bonitas. O livro todo.

Com isso, Fim da Classe Média entra numa situação complicada de defender. Por um lado, há a boa vontade do autor em mostrar como está havendo uma fragmentação das elites e o esgotamento do modelo social e econômico que vivemos. No entanto, por conta da dificuldade da leitura, a obra acaba sendo muito mais voltada para as elites. Ora, como chegar na base?


Este é o típico livro que deveria, absolutamente, ter uma linguagem mais simples e acessível, com um encadeamento de conceitos e lógica aberto para um público maior. Da maneira que ficou, Fim da Classe Média se tornou mais restritivo. No final das contas, Guilluy alerta sobre os problemas da nossa sociedade justamente para aquele grupo interessado no caos social.


Tirando isso, é louvável a análise social poderosa e ampla do autor. Ainda que restrito em exemplos na França, sua análise acaba vazando para outras realidades, outros países, outras sociedades. Eu, aqui do Brasil, consegui relacionar e sentir algumas das coisas que o autor disse sobre sua realidade francesa. Isso é algo que pouquíssimos autores conseguem fazer de fato.


Enfim. Fim da Classe Média, para quem busca uma leitura que tenha força de penetração, é um tanto quanto decepcionante. No entanto, para aqueles acadêmicos que buscam avaliações ou análises de seus pares sobre o que está acontecendo e o que pode vir a acontecer na sociedade, vai encontrar aqui um prato cheio. Tem material de sobra. Só precisa conseguir desbravar.

 
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