Certo dia, a jovem Rose estava passeando de bicicleta quando leva um susto e cai. No entanto, o local da queda não era um simples buraco ou coisa do tipo. Era, na verdade, uma mão gigante feita de um material parecido com o aço. E, como o destino não está aí para brincadeiras, Rose acaba se tornando uma cientista e responsável, justamente, pra descobrir o que é aquele objeto.
Esta é a trama central de Gigantes Adormecidos, livro de Sylvain Neuvel que vai além do óbvio. Espécie de ficção científica, a história chega ao leitor de maneira diferenciada. Ao invés de narrar ponto a ponto dessas descobertas, o autor se vale de diferentes tipos de narrativas -- há entrevistas, matérias, relatórios. É isso, e não a linguagem convencional, que constrói o livro.
Por isso, num primeiro momento, é difícil de mergulhar na literatura de Neuvel. É diferenciado ver os acontecimentos se desdobrando com entrevistas, reportagens e relatórios. Ainda mais com rápidas passagens de tempo, sem nenhum tipo de explicação ou didática. O autor confia na capacidade do leitor em deduzir os vazios e compreender o andamento dessa boa história.
“– Sempre há uma escolha. Sempre houve uma escolha. Você deveria estar feliz por ter a possibilidade fazer essa escolha quando o que está em jogo é muito claro. Raramente é assim”.
O fato é que Gigantes Adormecidos consegue prender o leitor e deixá-lo curioso para o andamento da trama. O desafio de entender a história e, sobretudo, não se perder na rigidez dos relatórios faz com que a leitura seja mais saborosa. A ficção científica surge aos poucos, de maneira surpreendente, e que vai tomando conta -- lembra, aliás, o ótimo Círculo de Fogo.
Assim, para quem quer uma ficção científica tradicional, cheia de amarras e fórmulas, não vai se encontrar no livro de Neuvel. É, em resumo, um livro desafiador e original, com particularidades.
O único defeito é que, ao analisar a trama como um todo, após as cerca de 300 páginas, pouca coisa acontece de fato. Gigantes Adormecidos serve mais como uma introdução do universo apresentado pelo autor do que um primeiro livro, de fato. É um prólogo, de certa forma. E, assim, muitos podem ficar desconfortáveis com a falta de informação e a necessidade do outro livro.
Mas não dá pra negar. É um livro surpreendente, que nunca diminui a inteligência do leitor e que se faz presente com uma narrativa pouco usual. Ideal para quem busca uma leitura fora dos padrões, mas com qualidade. A diversão é certa e a vontade de ler cada vez mais, também. Só uma dica: não corra com a leitura. Senão, coisas podem ficar atrapalhadas no final das contas.
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