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Foto do escritorMatheus Mans

Resenha: 'Mergulho' usa contos como meio para atingir sensibilidade nas letras


Comecei a leitura de Mergulho sem saber -- ou entender -- o que encontraria ali. Numa rápida folheada, antes de mergulhar nas letras da autora Silvia Waltrick, me deparei com alguns poemas, alguns textos mais longos, em formato de crônica. O que seria Mergulho? Uma mistura de narrativas? Um livro mais sensorial, que explora formatos para contar algo apenas linear?


Nada disso. A obra da autora Silvia Waltrick, advogada de Florianópolis, não se prende em estéticas, formatos ou embalagens. Elegante e sensível, a autora se vale de crônicas e de breves e inesperados poemas para convidar o leitor a um mergulho em sua sensibilidade. Cada texto, geralmente não maior do que duas páginas, promove reflexões, pensamentos, emoções.


Assim como ressaltamos no excelente Microscópio, também da editora InVerso, tamanho não é documento. É possível encontrar um caminhão de sensibilidade, amor e dedicação mesmo em textos curtos, curtíssimos. A mesma premissa vale para Mergulho. Waltrick, com uma prosa que é quase poesia, traz situações do cotidiano e as transforma em letras elegantes e delicadas.

Situações como o se descobrir sexualmente, sobre a tal "barriga negativa", sobre a infância. Tudo está ali nas sensações da autora catarinense, com uma qualidade literária acima da média.


Dentre as crônicas apresentadas no livro -- são 30, que passam voando! -- podemos nos ver nas letras, enxergar melhor Silvia, entender mais sobre nós mesmos. O título não é à toa. É um mergulho, de fato, na psiquê humana. No nosso comportamento em sociedade, na nossa memória, nos nossos desejos e até nos nossos medos. Um mergulho, assim, que vai fundo.


É perceptível, porém, que algumas vezes Silvia entrega textos excepcionais e, depois, intercala com outros inferiores -- ainda que a qualidade, no geral, se mantenha altíssima. Não é um erro, já que é normal intercalar dessa forma. No entanto, é difícil manter a concentração. Mais de uma vez me peguei pensando no texto anterior enquanto já devorava, sem pensar muito, o seguinte.


Dessa forma, deixo uma dica: se quiser se embrenhar nas delicadezas de Mergulho, faça-o aos poucos. Explore a narrativa com calma, serenidade, como a narrativa de Silvia exige. Não vá de uma vez. Leia um texto por noite, para ficar traçando paralelos entre você e o que foi dito. Garanto: a experiência será ainda mais interessante, particular e profunda. Vale a pena a leitura.

 
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