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  • Foto do escritorMatheus Mans

Resenha: 'Os Vivos e os Outros' é bom mergulho no coração da literatura


O escritor angolano José Eduardo Agualusa é uma das vozes mais interessantes da literatura africana, ao lado ainda de nomes como Mia Couto e Chimamanda Ngozi. Por isso, não é surpresa nenhuma que Os Vivos e os Outros seja uma baita leitura. E sim, uso a palavra "baita" com a consciência de sua informalidade, assim como de suas limitações. Mas vou adiante a seguir.


Os Vivos e os Outros, tal qual um filme de Hong Sang-Soo, fala de encontros e desencontros. A aparente banalidade da rotina esconde histórias, segredos, desafetos, personalidades, desgostos. Mas aqui, ao contrário do cinema do citado diretor coreano, nada de encontrarmos só dramas humanos. Agualusa fala disso, mas vai além: fala sobre literatura, África, identidade.


Afinal, ao longo de 200 páginas, mergulhamos na história de um grupo de escritores que parte para participar de um evento literário, aos moldes da FLIP, em uma ilha africana. Uma tempestade, porém, faz com que esses autores — muitos deles estrelados, vale dizer — fiquem literalmente ilhados. Sem internet, sem telefone, sem contato e comunicação com o continente.

A partir daí, Agualusa se vale de uma estética narrativa já vista em outros livros consagrados do autor, como O Vendedor de Passados. Ele mistura realidade e ficção, verdade e mitos, a brutalidade do dia a dia com os sonhos das páginas de um livro. Esses escritores retratados em Os Vivos e os Outros tomam o protagonismo de maneira difusa, expandindo a história pela ilha.


Assim, com isso, encontramos uma porção interessante de sentimentos que salta da narrativa. Há, de maneira muito contundente, uma discussão importante sobre a identidade da literatura africana e a tentativa de povos de fora em encaixotar tudo que sai de lá em uma única estética. Há, também, interessantes provocações na narrativa do livro sobre o próprio estilo e história.


Uma pena, porém, que o Agualusa perca algumas oportunidades — a própria relação dos personagens com fantasias poderia ter ido além, colocando a própria existência dos protagonistas em xeque. No entanto, o escritor acaba se contentando com essas provocações e não vai além nas possibilidades imensas que se abrem a cada boa sacada deixada de lado.


Mas tudo bem. Afinal, Os Vivos e os Outros continua sendo uma baita leitura, com reafirmação nesse adjetivo que é o que surge com mais força em minha mente no momento em que escrevo esta resenha. Mergulhei na proposta do livro, me encantei pelos personagens e viajei por Moçambique sem ter ido pra lá. Agualusa merece mais atenção. Viva a literatura da África!

 
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