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Resenha: 'Raios e Trovões' faz passeio no universo de 'Castelo Rá-Tim-Bum'


'Raios e Trovões', livro-reportagem de Bruno Capelas / Foto: Matheus Mans

Durante as décadas de 1980 e 1990, a TV Cultura participou ativamente da criação do imaginário infantil brasileiro. Com forte preocupação pedagógica, o canal paulista prestou atenção redobrada nas produções infanto-juvenis e levou ao ar programas clássicos como Rá-Tim-Bum, Glub Glub e X-Tudo. Mas nenhum fez tanto sucesso quanto o inexorável Castelo Rá-Tim-Bum.


Criação de Cao Hamburger e Flávio de Souza, o programa acompanha a rotina do mago Nino e de seus três amigos "normais": Pedro, Zequinha e Biba. O quarteto, assim, acaba imerso em um mundo mágico, colorido e repleto de criaturas surreais, como o Gato, Celeste, Mau e Godofredo, e alguns personagens marcantes, tal qual Morgana, Tio Victor, Etevaldo, Bongô e Dr. Abobrinha.


E é sobre Castelo Rá-Tim-Bum que se debruça o delicioso Raios e Trovões, do jornalista Bruno Capelas. Fruto de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o livro-reportagem examina, de maneira apurada, os meandros da criação do Castelo, assim como detalhes de rotina de gravação, desafios internos e sucesso póstumo. Ou seja: vai além de um simples almanaque.


Para isso, Bruno Capelas fez entrevistas, mergulhou em arquivos e, acima de tudo, compreendeu a importância e a magia por trás do programa da TV Cultura. Além de contar as histórias do Castelo, o jornalista fez um panorama da televisão para que o leitor consiga compreender o momento de criação do programa e como se dava o cenário televisivo nacional.


Assim, antes de tudo, Raios e Trovões é um registro histórico sobre o período de ouro do audiovisual brasileiro. Por mais que seja apenas uma pequena parcela de tudo que foi feito naquele momento, o Castelo contribuiu para mostrar que havia uma parcela de pessoas ociosa por programas infanto-juvenis brasileiros de qualidade. É um livro para se ter na estante.


Misterioso e mágico. Alegre e urbano. Um castelo que existisse antes da megalópole que se formou ao seu redor.

Descrição do Castelo, por Fávio de Souza e Cao Hamburger


O mais saboroso da obra, porém, reside nas curiosidades, histórias de bastidores e visão dos envolvidos sobre o Castelo. Com um tipo de narrativa típica da de Bruno Capelas em suas reportagens n'O Estado de S. Paulo, a jornada sobre o que há por trás do programa é revelada nas páginas de maneira leve e descontraída, mas sem perder o tino jornalístico de apuração.


São nesses momentos, já munido do background da TV Cultura e devidamente imerso numa nostalgia impossível de frear, que o leitor sorri. As palavras de Bruno Capelas navegam suavemente pelo mar das memórias e faz despertar emoções e sensações, de mãos dadas com lembranças particulares. Afinal, Castelo moldou gerações e fez parte do dia a dia das pessoas.


O melhor de tudo, porém, é que não há uma nostalgia forçada ou um desejo proeminente de fazer com que Raios e Trovões surfe no sucesso do programa, que persiste até hoje com exposições, peças de teatro e afins. Esses sentimentos surgem despretensiosamente em uma boa narrativa jornalística. E a nostalgia aparece por conta da qualidade de Raios e Trovões.


Destaque, ainda, para as últimas 40 páginas. Nelas, Capelas mostra como o Castelo ainda vive no cotidiano de alguns dos atores -- preste atenção, principalmente, nas duas histórias de Pascoal da Conceição --, faz uma análise sobre o sucesso do programa, lista todos os episódios e descreve ainda onde estão todos os envolvidos e citados com a produção nos dias atuais.


Em resumo, Raios e Trovões é um livro que parte de uma narrativa de qualidade jornalística para fazer com que o leitor trafegue na própria memória e imaginação -- algo raro em livros-reportagem. É como um abraço quentinho de nostalgia, fazendo com que essas gerações das décadas de 1980 e 1990 lembrem com carinho de um passado fincado na memória afetiva.


 
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