Depois de Lua Vermelha e O Problema de Nascer, mais um filme perturbador pra conta da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2020. Desta vez é a animação polonesa Kill It and Leave This Town, do realizador Mariusz Wilczynski. Abstrato e nem um pouco fácil de decifrar, este longa-metragem é um mergulho profundo à mente do diretor, em memórias e pesadelos.
E quando digo profundo é profundo mesmo. Afinal, Wilczynski não se contenta com memórias alegres e coloridas, como Peixe Grande e Suas Maravilhosas Histórias, e tampouco parte para um abstratismo onírico de A Cela. Aqui, suas memórias se confundem com pesadelos. As coisas aparentemente não fazem sentido e assustam com rabiscos fortes, desencontrados, brutos.
É, assim, um filme cru. Somos convidados a entrar nesse campo minado da mente de Wilczynski, mas o caminho nunca é simples. Sem um roteiro aparente, Kill It and Leave This Town nos faz trafegar em dores, desamparos, tristezas e a frieza da Polônia nos anos 1970, quando ainda sofria com as máculas da Segunda Guerra Mundial e sob julgo da URSS.
Dessa forma, encontramos um cinema aparentemente desconjuntado e anacrônico, mas que não incomoda. Afinal, quando sonhamos, há algum sentido naquilo? É nessa sensação e experiência que o diretor polonês nos coloca, partindo para um conjunto de esquetes que, no todo, pintam esse quadro horrendo de nossas memórias misturado com um forte pesadelo.
Não é simples, tampouco fácil mergulhar em uma experiência desse tipo. É o exemplo de filme que necessita que o público esteja aberto à abstrações e não fique realmente grudado na necessidade de um roteiro óbvio e linear. É um filme para experimentar e sentir, assim como são nossos sonhos, medos, memórias e pesadelos. Tudo cru e direto, sem filtros, como deve ser.
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