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  • Foto do escritorMatheus Mans

Resenha: 'O Poder' provoca reflexão social com provocações e boa narrativa


Que tarefa mais difícil é falar sobre O Poder, livro de Naomi Alderman e publicado no Brasil pela Planeta de Livros. Afinal, tal qual Herland, a obra brinca com a presença social da mulher para ir além em reflexões sobre sociedade, equidade, respeito, machismo. É um livro deveras complexo, cheio de camadas e boas sacadas, mas que fica o aviso: pode ser mal interpretado.


Antes de tudo, porém, vamos falar sobre a trama. O Poder se passa em um futuro distópico próximo, com algumas grandes mudanças. Dentre elas, as mulheres desenvolvem o estranho poder de eletrocutar outras pessoas, infligindo dores terríveis até a morte. De repente, os homens se dão conta de que não estão no controle do mundo, revertendo a lógica social.


Com toques de Gabriel García Márquez e até com ecos de Isabel Allende, O Poder brinca com a noção de realidade para tirar o espectador de seu lugar de conforto para provocar, instigar reflexão. Afinal, ao invés de seguir pelo caminho de mostrar um mundo mais igual, como faz o clássico inferior Herland, Naomi Alderman surpreende: com mulheres no poder, desigualdade.

Afinal, ela não perde tempo de chamar a atenção de que "o homem é o lobo do homem", como diria Thomas Hobbes. O gênero é importante na narrativa, claro. Mas Naomi mostra que a natureza do ser humano em subjugar o outro, o inferior, não é algo de um gênero ou de outro. É da nossa constituição como sociedade. É uma aposta ousada e polêmica da autora britânica.


Enquanto isso, na outra mão, ela coloca os homens na condição que as mulheres tiveram (e ainda têm!) que enfrentar em algumas situações sociais. Ou seja: de um lado, ela mostra esses desajustes sociais praticados contra gêneros. Do outro, mostra como o poder corrompe. Como o ser humano precisa colocar seus potenciais inimigos sob seus joelhos, novamente subjugado.


O único problema no livro está na expectativa. Já vi comparações, por aí, com Jogos Vorazes e O Conto da Aia. Ainda que tenha alguns traços do livro de Atwood, não é uma distopia de ação como as pessoas se acostumara -- até banalizando o subgênero de maneira torta. É uma distopia social como deve ser, com reflexões potentes sobre a sociedade. Não há ação, aventura.


É um filme como deve ser. Forte, polêmico, potente. Brinca com as emoções do leitor o tempo todo, principalmente prometendo um final grandioso -- e será que entrega? Não é um livro para todos, isso é certeza. É preciso baixar um pouco as expectativas e compreendê-lo como um estudo social a partir do realismo fantástico. Com isso em mente, é um dos melhores da década.

 
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