O ano de 2020 não foi normal. Por conta da pandemia do novo coronavírus, as pessoas precisaram se trancar em casa para não se contaminarem e também para não espalhar a contaminação. Os cinemas, com isso, fecharam as portas. Pela primeira vez na História, não tivemos lançamentos na sala escura durante meses. Entre março e outubro, só o vazio.
Obviamente, a tecnologia permitiu que muitos filmes chegassem até nós de diferente maneiras. Muita coisa estreou diretamente no streaming, a Netflix fez a festa. Mas isso não impediu de termos um ano fraquíssimo de cinema. Obviamente, abaixo, esse problema está refletido nessa nossa lista abaixo. Um tanto imprevisível, um pouco estranha. Mas eis os melhores de 2020.
Só vale ressaltar que consideramos a data de lançamento no Brasil - se o filme é de 2019, mas chegou ao Brasil só neste ano, ele entra na lista. Assisti muita coisa de festivais que entrariam tranquilamente na lista, como Pieces of a Woman e Another Round. Mas ainda não estrearam no Brasil. Uma pena. Se você tiver alguma sugestão ou crítica sobre a lista, deixe nos comentários!
15. A Caçada
Título: A Caçada
Direção: Craig Zobel
Elenco: Betty Gilpin, Hilary Swank, Ike Barinholtz
Nota do filme: 8,8
1. Originalidade: 9,5
2. Qualidade Técnica: 8,5
3. História: 9,0
4. Atuações: 8,0
5. Caráter Mobilizador: 9,0
Justificativa: Um dos filmes mais originais de 2020, A Caçada é daquelas histórias que demoram a sair da cabeça de quem assiste. Afinal, a trama acerta em cheio ao contar a história de um grupo de pessoas de direita que começa a ser caçado brutalmente — numa espécie de Jogos Vorazes, mas com viés político ainda mais claro. O tom de sátira da coisa só ajuda a dar ainda mais força e individualidade ao filme. Não é incrível, mas merece lugar na lista. Análise AQUI.
14. Aos Olhos de Ernesto
Título: Aos Olhos de Ernesto
Direção: Ana Luiza Azevedo
Elenco: Jorge Bolani, Jorge D'Elía, Gabriela Poester
Nota do filme: 8,9
1. Originalidade: 8,5
2. Qualidade Técnica: 9,0
3. História: 9,0
4. Atuações: 9,0
5. Caráter Mobilizador: 9,0
Justificativa: Confesso que em anos normais, Aos Olhos de Ernesto ficaria nas menções honrosas. No entanto, 2020 foi arrasador para os cinemas brasileiros e pouquíssima coisa digna de nota chegou às telonas. No entanto, felizmente, temos esta pérola de Ana Luiza Azevedo que é um bálsamo para a alma em quarentena. Sensível e delicado, o longa-metragem acerta em cheio ao falar sobre a relação de um homem idoso com uma garota interesseira, mas carinhosa.
13. Boys State
Título: Boys State
Direção: Amanda McBaine, Jesse Moss
Entrevistados: Ben Feinstein, Steven Garza, Robert MacDougall
Nota do filme: 8,9
1. Originalidade: 9,0
2. Qualidade Técnica: 9,0
3. História: 8,5
4. Entrevistas: 9,0
5. Caráter Mobilizador: 9,0
Justificativa: Um dos documentários mais legais de 2020 que vai fundo numa questão esquecida, mas latente: como a política funciona na cabeça dos jovens? Em Boys State, que é uma produção exclusiva da Apple, acompanhamos um grupo de jovens americanos em uma espécie de retiro político. É vertiginosa, e inteligente demais, o mergulho que a dupla de diretores faz com o espectador. Para pensar como fazemos política por aí. Crítica está AQUI.
12. Emma.
Título: Emma.
Direção: Autumn de Wilde
Elenco: Anya Taylor-Joy, Bill Nighy, Mia Goth, Johnny Flynn
Nota do filme: 8,9
1. Originalidade: 8,0
2. Qualidade Técnica: 10,0
3. História: 9,5
4. Atuações: 9,5
5. Caráter Mobilizador: 7,5
Justificativa: As histórias de Jane Austen já foram adaptadas à exaustão. Por isso, sempre que um novo filme inspirado em sua obra é anunciado, há desconfiança. No entanto, Autumn de Wilde conseguiu trazer um frescor de originalidade nesta obra protagonizada por Anya Taylor-Joy e Bill Nighy. Afinal, ainda que a personagem Emma continue um tanto quanto insuportável, o visual do filme e a maneira inteligente que a cineasta aproveita o clima da trama são refrescos bem-vindos. Não é um filme perfeito, mas traz um pouco de cor à tempos cinzas. Crítica AQUI.
11. Estou Pensando em Acabar com Tudo
Título: Estou Pensando em Acabar com Tudo
Direção: Charlie Kaufman
Elenco: Jesse Plemons, Jessie Buckley, Toni Collette
Nota do filme: 9,0
1. Originalidade: 8,5
2. Qualidade Técnica: 10,0
3. História: 9,5
4. Atuações: 9,5
5. Caráter Mobilizador: 7,5
Justificativa: Ok, ok. Talvez Estou Pensando em Acabar com Tudo, primeiro filme da Netflix na lista, seja o mais pretensioso do ano. No entanto, isso não tira o mérito de Charlie Kaufman (Anomalisa) de ter feito um dos filmes mais malucos, tristes e profundos de 2020. A jornada do personagem interpretado por Jesse Plemons é dolorosa, avassaladora e inclemente. E o diretor subverte a lógica do tempo como Nolan não conseguiu com o fraco Tenet. Crítica completa AQUI.
10. Secreto e Proibido
Título: Secreto e Proibido
Direção: Chris Bolan
Entrevistados: Terry Donahue, Pat Henschel, Diana Bolan
Nota do filme: 9,1
1. Originalidade: 8,5
2. Qualidade Técnica: 8,5
3. História: 9,0
4. Entrevistas: 9,5
5. Caráter Mobilizador: 10,0
Justificativa: Mais um filme da Netflix pra lista. Agora, o sensível documentário Secreto e Proibido. Aqui, acompanhamos a jornada de duas mulheres que se apaixonam na década de 1940 e precisam enfrentar o preconceito nos Estados Unidos — além da idade, que se torna o ponto central do filme em sua segunda metade. Difícil não derramar algumas lágrimas, ainda que o diretor Chris Bolan force alguma emoção. História sensível e necessário. Crítica AQUI.
9. O Som do Silêncio
Título: O Som do Silêncio
Direção: Darius Marder
Elenco: Riz Ahmed, Olivia Cooke, Paul Raci
Nota do filme: 9,1
1. Originalidade: 9,0
2. Qualidade Técnica: 9,0
3. História: 9,0
4. Atuações: 10,0
5. Caráter Mobilizador: 8,5
Justificativa: Filme que entrou nesta lista ao 48 do segundo tempo, após estrear no Amazon Prime Video — nem temos crítica por aqui. Surpreendente, sensível e poderoso, este longa-metragem acerta em cheio ao contar a jornada de um baterista problemático que começa, aos poucos, a perder a audição. A atuação de Riz Ahmed é uma das melhores do ano e o trabalho de Marder é marcante. Deve figurar na temporada de premiações, inclusive categorias técnicas.
8. Transtorno Explosivo
Título: Transtorno Explosivo
Direção: Nora Fingscheidt
Elenco: Helena Zengel, Albrecht Schuch, Gabriela Maria Schmeide
Nota do filme: 9,2
1. Originalidade: 9,0
2. Qualidade Técnica: 10,0
3. História: 9,0
4. Atuações: 10,0
5. Caráter Mobilizador: 8,0
Justificativa: Que filme mais forte é esse Transtorno Explosivo. Disparado o melhor filme da Mostra Internacional de Cinema de 2019, este longa-metragem causa desespero no público ao mostrar a jornada de uma garota-problema. Ela foi deixada de lado pelos pais e agora salta de casa em casa, sempre causando problemas. É um filme forte, inclusive com algumas cenas que dão vontade de se esconder e apenas chorar. E que traz a mensagem mais forte do ano. Crítica.
7. Você Não Estava Aqui
Título: Você Não Estava Aqui
Direção: Ken Loach
Elenco: Kris Hitchen, Debbie Honeywood, Rhys Stone
Nota do filme: 9,3
1. Originalidade: 9,0
2. Qualidade Técnica: 9,0
3. História: 10,0
4. Atuações: 9,0
5. Caráter Mobilizador: 9,5
Justificativa: O diretor Ken Loach se tornou uma das vozes mais ativas e eloquentes para falar sobre as dores do mundo atual -- refém de burocracias, tecnologia e de um neoliberalismo cada vez mais cruel. Depois de dividir opiniões com o contundente Eu, Daniel Blake, o cineasta acertou em cheio com Você Não Estava Aqui, um filme poderoso sobre uma família entrando em estado de desgraça com a "uberização". É um filme poderoso, necessário e que traz algumas das discussões mais pertinentes e urgentes para tempos atuais. Filmão. Crítica completa AQUI.
6. Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre
Título: Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre
Direção: Eliza Hittman
Elenco: Sidney Flanigan, Talia Ryder, Théodore Pellerin
Nota do filme: 9,3
1. Originalidade: 9,5
2. Qualidade Técnica: 8,5
3. História: 10,0
4. Atuações: 9,0
5. Caráter Mobilizador: 9,5
Justificativa: Não há dúvidas: precisamos falar sobre aborto. Em 2020, vimos a barbárie acontecer no Brasil quando fundamentalistas religiosos neonazistas se prostraram na frente de um hospital para impedir que uma criança fizesse um aborto seguro e legal. Em Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre vemos o aborto e a gravidez indesejada agindo na mente de uma garota que tenta solucionar sua gravidez. Forte, urgente, necessário, é um dos grandes de 2020.
5. Instinto
Título: Instinto
Direção: Halina Reijn
Elenco: Carice van Houten, Marwan Kenzari, Marie-Mae van Zuilen
Nota do filme: 9,3
1. Originalidade: 9,5
2. Qualidade Técnica: 8,5
3. História: 10,0
4. Atuações: 9,0
5. Caráter Mobilizador: 9,5
Justificativa: Um dos filmes mais ousados e provocativos do ano. Uma pena que tenha passado batido. Instinto, que foi o indicado da Holanda ao Oscar 2020, conta a história de psicóloga que se apaixona por um criminoso acusado de agressão sexual -- e que ela está se encontrando para avaliar os avanços do prisioneiro. A partir daí, a diretora Halina Reijn versa sobre abusos e os problemas de uma relação de poder podre desde o começo. Ao final, sem ser apelativa, a cineasta provoca o espectador a pensar sobre a relação, seus caminhos e a ética. Crítica AQUI.
4. Joias Brutas
Título: Joias Brutas
Direção: Benny Safdie, Josh Safdie
Elenco: Adam Sandler, Julia Fox, Idina Menzel
Nota do filme: 9,4
1. Originalidade: 10,0
2. Qualidade Técnica: 10,0
3. História: 9,0
4. Atuações: 10,0
5. Caráter Mobilizador: 8,0
Justificativa: E quem dia que Adam Sandler algum dia figuraria no top 5 de melhores do ano? Em Joias Brutas, o ator sai de seu papel habitual da comédia e abraça um drama inesperado e insano. Aqui, ele interpreta um judeu que trabalha negociando joias até que se mete em um problema absurdo. Sandler está fenomenal, a direção dos Safdie está ainda mais afiada e é difícil não embarcar na história — e ficar chocado com o final acertado. Filmaço. Crítica AQUI.
3. Agente Duplo
Título: Agente Duplo
Direção: Maite Alberdi
Entrevistados: Sergio Chamy
Nota do filme: 9,8
1. Originalidade: 10,0
2. Qualidade Técnica: 10,0
3. História: 9,0
4. Entrevistas: 10,0
5. Caráter Mobilizador: 10,0
Justificativa: Aqui a coisa já começa a ficar intrincada, difícil de separar um filme do outro. Agente Duplo, acredito eu, é uma das grandes surpresas de 2020. Assisti ao longa-metragem no É Tudo Verdade deste ano. Fiquei maravilhado, como deixei claro na crítica. Afinal, inicialmente, o filme se propõe a ser uma espécie de história de espionagem. A trama? Um idoso é contratado para se infiltrar num asilo e falar para um detetive o que se passa lá. No entanto, conforme o tempo passa, esse idoso vai percebendo outros problemas nessa casa de repouso, como abandono e solidão dos mais velhos. É um filme forte, inteligente, ousado, criativo. Pra refletir.
2. Honeyland
Título: Honeyland
Direção: Tamara Kotevska, Ljubomir Stefanov
Entrevistados: Hatidze Muratova, Nazife Muratova, Hussein Sam
Nota do filme: 9,8
1. Originalidade: 10,0
2. Qualidade Técnica: 10,0
3. História: 9,0
4. Entrevistas: 10,0
5. Caráter Mobilizador: 10,0
Justificativa: O filme mais sensível e delicado de 2020. Por pouco, muito pouco, não arrebatou o primeiro lugar. E não é pra menos. Honeyland, que foi indicado ao Oscar em Melhor Filme Internacional e Documentário, emociona ao contar a história de uma mulher, no interior da Macedônia do Norte, que sobrevive criando abelhas. No entanto, sua vida é virada de cabeça pra baixo quando vizinhos chegam ali. É lindo, é inspirador e tão bem feito e filmado que nem se parece com um documentário: há clímax, anticlímax, personagens bem construídas. Filmaço.
1. Adoráveis Mulheres
Título: Adoráveis Mulheres
Direção: Greta Gerwig
Elenco: Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Laura Dern, Meryl Streep
Nota do filme: 9,9
1. Originalidade: 10,0
2. Qualidade Técnica: 10,0
3. História: 9,5
4. Entrevistas: 10,0
5. Caráter Mobilizador: 10,0
Justificativa: Depois de Lady Bird, a diretora Greta Gerwig conseguiu apresentar um filme ainda mais maduro. Adoráveis Mulheres faz uma nova adaptação do romance Mulherzinhas, que já ganhou uma série sem fim de versões para cinema, TV e até rádio. Aqui, porém, a cineasta soube adaptar o longa-metragem aos tempos atuais -- mesmo com a história se passando há décadas -- com personagens interessantes e uma narrativa absolutamente deliciosa. Difícil não se entregar à Adoráveis Mulheres, um dos melhores do Oscar e melhor do período. Crítica AQUI.
Observações
* Para desempate, seguiu-se a ordem de notas: originalidade, qualidade técnica, história, atuações e caráter mobilizador.
** Algumas notas mudaram entre diferentes rankings por conta de contexto.
*** Menções honrosas: O Homem Invisível, Luce, Tigertail, A Despedida, Ligue Djá, Professor Polvo, Emicida: Amarelo, On The Rocks, Revelação, As Mortes de Dick Johnson, Os 7 de Chicago, Libelu, Mulher
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